Uma pesquisa realizada pela Ipsos, em 2022, revelou dados preocupantes em relação
ao machismo dentro do mundo da gastronomia. Enquanto nas cozinhas domésticas
do Brasil, elas são a maioria absoluta, com 96%, nas cozinhas profissionais, as
mulheres representam apenas 7% dos chefes dos restaurantes mais renomados do
país. Além disso, quase metade das entrevistadas, 45%, afirmaram que não
conseguem crescer dentro da gastronomia porque não são ouvidas pelos chefes
homens.
Para Mariana Cardoso, sócia da Gass Company, a gastronomia reflete um padrão de
comportamento de um mundo machista. “Precisamos entender que o machismo não
é um problema apenas da mulher. Nós somos vítimas do machismo. A gente ainda
precisa lutar muito para alcançar lugares que, para os homens, é natural de assumir.
Eles têm muito mais oportunidades. Na gastronomia ainda existe esse estereótipo,
mas a mulher hoje é gestora, gerente do negócio e dona de empresas. Não nos foi
ensinado que a gente tem direito a esse espaço”, pontua.
Cardoso detalha que o tempo para se especializar em uma profissão é um obstáculo
recorrente. “Em muitos lares as tarefas ainda não são bem divididas. Além disso,
existem pesquisas que mostram que empreender é mais caro para as mulheres. O
acesso ao crédito é mais difícil também”, afirma. Sobre a dificuldade de ser ouvida
dentro do trabalho, a sócia da Gass Company alerta que ouvir os colaboradores é
uma premissa importante e que deve ser respeitada.
Mariana Cardoso também chama atenção para o número de alunas nos cursos de
formação, onde mulheres são maioria. “Ao mesmo tempo, elas têm mais dificuldade
para ganhar espaço dentro das cozinhas profissionais. Existe o machismo da mulher
engravidar e não aguentar trabalho físico pesado. Esse preconceito fecha muitas
portas”, conta. A especialista destaca que existem ainda realidades muito mais duras
quando se fala de machismo e preconceito na ótica da mulher negra. A pesquisa da
Ipsos, por exemplo, revelou que 47% das entrevistadas concordavam que entrar na
profissão era mais difícil para as mulheres negras.
Nesse sentido, Mariana Cardoso, que tem um vasto histórico tanto dentro das
cozinhas, quanto na parte administrativa de negócios gastronômicos, afirma ser
necessário ter paciência para lidar com o dia a dia. “Temos que fazer o que a gente faz
sempre, se impor e ter pulso firme. Às vezes, a gente precisa fazer o triplo do esforço
que um homem faz para delegar uma determinada tarefa. Isso, na minha opinião,
ainda nos torna melhores e maiores. Quando há liderança feminina, muitas vezes,
ainda somos questionadas e invalidadas. Se a gente quer mudar algo, precisamos
enfrentar. Nossas futuras gerações vão nos agradecer, assim como hoje, agradecemos
a muitas mulheres que vieram primeiro e conseguiram abrir esses caminhos que hoje
a gente ocupa”, sugere.
Por Yasmim Rodrigues